ELE MORREU PARA QUÊ?

Essa semana o Jornal a Folha de São Paulo publicou uma matéria mencionando uma hipótese sugerida pelo teólogo David Tombs, na qual é indicado que Jesus teria sofrido abuso sexual como parte da tortura, um pouco antes de ser crucificado. Ele compreende que abuso não se trata apenas de relação ou penetração violenta, estupro sexual. Mas, pode ser humilhação sexual, agressão sexual, sendo contato sexual forçado ou penetração.

Creio que tal matéria, é proposital nessa época da Páscoa, para gerar mais discussão.

Ainda não tinha sido apresentado à essa tese. Mas, acho tendencioso e perigoso levar a suposição de que Jesus ao ter sido violentado sexualmente demonstrou o quanto é solidário àqueles que foram e são. O texto canônico afirma que suas vestes foram rasgadas, então, ele sofreu exposição da sua nudez, obviamente. Houve uma humilhação ao seu corpo, claro.

Ao buscar minhas fontes, não achei uma que pudesse me satisfazer com alguma citação sobre violência sexual no episódio. Li alguns textos apócrifos, como: Evangelho de Nicodemos, Evangelho de Pedro, Relatório de Pilatos a Cesar, Sentença dada por Pôncio Pilatos, Declarações de José de Arimatéia, Evangelho Perdido de Pedro. Além de pesquisar em historiadores, como, Tácito, Suetônio, Marco Cornélio Frontão, Flávio Josefo, Plínio, Sêneca. Fui também pesquisar em livros dos seguintes autores: Raymond Brown (Comentário ao Evangelho, segundo João, Vol II, pg. 1314) que afirmou: “o mandou açoitar (Jesus). Literalmente, o grego diz que Pilatos açoitou Jesus, mas o v.2 deixa claro que isto foi feito por outros sob sua ordem. Veja o emprego similar em 19.19, Mc. 15.15 e Mt. 27.26, usam o verbo latinizado fragelloun (flagelar), enquanto João usa mastigou. (De acordo com Lucas 2316-22, Pilatos entregou Jesus para ser castigado (paideuein). Aqui e no v.3, a palavra escolhida por João (esbofetear) pode refletir o vocabulário de Isaías 50.6: “Eu dei minhas costas aos açoites e minha face às bofetadas”. Os romanos usam três formas de castigo físico com varas ou chicotes: fustigatio (fustigar), flagellatio (flagelar) e verberatio (açoitar)—em grau ascendente. A flagelação era usada como uma punição em si mesma corretiva, mas punição mais severa, os açoites, fazia parte da pena capital”; Edward Schillebeeckx, “Jesus, a história de um vivente” (294-95); Giuseppe Barbaglio, “Jesus, hebreu da Galiléia”: “A crucificação era somente o último ato da tortura, porque regularmente a precedia a flagelação do condenado junto a outras formas sádicas com as quais se assanhava sobre o desgraçado”; Bart Ehrman, “Como Jesus se tornou Deus” (Pg. 168): “De acordo com nossos registros, que são completamente críveis nesse ponto, os soldados maltrataram, açoitaram, zombaram de Jesus e o levaram embora para ser crucificado”; John Crossan, “O nascimento do Cristianismo” (Pg. 574) na qual menciona sobre o ritual da crucificação entre os romanos e o quanto era humilhante. Eles, os romanos, deixavam os corpos pendurados na cruz, para que os animais comessem; Udo Schnelle “Teologia do NT” (Pg. 199): “Pilatos mandou flagelar Jesus e levá-lo para a crucificação”.

Simon Montefiore, em seu livro “Jerusalém, a Biografia”: “muitas vezes as vítimas eram crucificadas nuas—homens de frente e mulheres de costas”. Isso aconteceu com Nosso Senhor, mas supor que tenha sido molestado e estuprado, é um passo muito grande. Penso que a Paixão de Jesus não foi direcionada à um público específico. O que houve no Gólgota com Jesus não foi para mostrar solidariedade a “x” grupo, foi para remissão de pecados. Solidariedade é importante? Sim! Mas, não nos reconcilia com o Pai. Além do mais, se levar para a interpretação de que os possíveis abusos sofridos por Jesus serviram de solidariedade para “x” grupo, inevitavelmente, proponho que esse grupo se sobrepõe a outrem. A paixão, morte e ressurreição de Jesus, foi PARA TODOS. Não minimizo a dor de quem foi molestado ou vítima sexual. Mas, a Paixão de Cristo é muito mais do que uma solidariedade a esse fantasma, é uma libertação.

Penso que Paixão de Cristo foi humilhante para ele, sem dúvidas. Um destacamento romano esteve presente, cerca de 500 a 600 soldados. Jesus foi profundamente humilhado, ultrajado, cuspido, ridicularizado, sua nudez exposta, mas não foi para demonstrar isso tudo apenas para um grupo (os vitimados de violência sexual), mas como escreveu Isaías no capítulo 53, ele foi como ovelha muda para o matadouro para assumir a nossa culpa, o castigo que nos traz a paz, estava sobre ele, e por suas chagas, nós fomos sarados.

Mais do que doença emocional, a Paixão é cura da doença da alma, daquilo que nos afasta de Deus. O Verbo encarnou-se para isso!

Pr. Márlon Gomes

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